O que é autismo na psicanálise?
O autismo é um assunto que tem ganhado cada vez mais visibilidade nos últimos anos. Com isso, faz-se necessário entender profundamente o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas implicações na vida das pessoas. É uma condição do neurodesenvolvimento, ou seja, do desenvolvimento cerebral, que faz com que a pessoa perceba e interaja com o mundo ao seu redor de forma diferente. Cada pessoa dentro do espectro autista é única e apresenta sintomas e níveis de comprometimento muito variados. Por isso, considera-se um transtorno do espectro.
Para a psicanálise, cada pessoa com autismo é única, com um jeito próprio de entender e interagir com o mundo. O foco está em compreender os desafios emocionais e relacionais que estão por trás dos sintomas.
Por exemplo, uma criança com autismo pode ter dificuldades para falar. Ao invés de apenas tentar fazê-la falar “normalmente”, a psicanálise busca entender o que se passa internamente com essa criança, o que faz com que a fala seja difícil para ela naquele momento.
Muitas vezes, pessoas com autismo têm formas não usuais de comunicação, como sons, gestos repetitivos ou isolamento. A psicanálise vê sentido nessas formas diferentes, como tentativas da pessoa de lidar com ansiedades e situações difíceis.
O psicanalista cria um vínculo de confiança com o paciente. Dentro desse vínculo, até formas “estranhas” de comunicação ganham espaço e podem ser entendidas pouco a pouco.
Dessa forma, a psicanálise rejeita a ideia de que existe um “normal” e que o autismo precisa ser consertado. Defende que cada um tem um jeito próprio de ser, pensar e sentir. O analista ajuda o paciente a se aceitar e expressar do seu jeito.
O objetivo não é tornar a pessoa com autismo “neurotípica”. É dar espaço para sua individualidade se desenvolver, facilitando relações, aprendizados e reduzindo sofrimentos. A psicanálise valoriza e se interessa justamente pelas diferenças únicas em cada pessoa.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o autismo é marcado por déficits persistentes na comunicação e interação social, assim como por padrões restritos e repetitivos de comportamentos. Os sintomas se manifestam desde a primeira infância, ainda que o diagnóstico possa ocorrer tardiamente em alguns casos.
Sinais comuns que podem indicar a presença de autismo:
- Dificuldade com a linguagem falada e entender expressões não verbais.
- Desafios para socializar e fazer amizades; preferência pelo isolamento.
- Apegos e rituais repetitivos; insistência em rotinas muito específicas.
- Interesses restritos e fixações por assuntos ou objetos específicos.
- Hipersensibilidade a estímulos sensoriais como sons, texturas, cheiros.
- Problemas com coordenação motora, como dificuldade com a escrita.
A intensidade desses sintomas é muito variável em cada pessoa dentro do espectro autista. Alguns têm transtorno leve, enquanto outros requerem apoio intensivo no dia a dia. O diagnóstico precoce por profissionais especializados é essencial para que a criança receba as intervenções adequadas desde cedo.
A causa exata do autismo ainda não é totalmente conhecida, mas estudos apontam fatores genéticos e ambientais como responsáveis. Não há relação comprovada entre autismo e vacinação. O diagnóstico envolve uma avaliação do neurodesenvolvimento da criança feita por equipe multidisciplinar, que pode incluir o psicólogo, o neurologista, o psiquiatra, o terapeuta ocupacional e o fonoaudiólogo.
Maria, diagnosticada com autismo aos 6 anos, relata: “Minha infância foi confusa até receber o diagnóstico. Me sentia diferente das outras crianças, tinha dificuldades para me comunicar e fazer amizades”. Após o diagnóstico, Maria passou por terapia comportamental e ocupacional, o que trouxe grande melhora em sua qualidade de vida.
O tratamento para o autismo envolve intervenções personalizadas para cada pessoa, visando melhorar a comunicação, interação social e comportamento.
As principais abordagens incluem:
- Terapia comportamental, para reforçar hábitos desejados.
- Terapia ocupacional, para desenvolver habilidades motoras e sensoriais.
- Terapia da fala, para aprimorar comunicação verbal e não verbal.
- Terapia em grupo, para praticar interações sociais.
- Medicamentos para sintomas específicos, como ansiedade.
- Adaptações no ambiente escolar e de trabalho.
Porém, mais do que as terapias em si, o fundamental é que a pessoa com autismo receba apoio, aceitação e inclusão da família, escola e sociedade desde cedo. Isso fará toda diferença em sua trajetória. Ambientes com estímulos sensoriais reduzidos, rotinas flexíveis e formas alternativas de comunicação já melhoram muito a experiência de alguém com autismo. Devemos combater o preconceito e ver a pessoa, não apenas o transtorno.
Pessoas com autismo podem ter uma vida plena, produtiva e independente. Cada um tem potenciais e talentos únicos que devem ser estimulados. Com as ferramentas adequadas, aquelas dentro do espectro autista podem prosperar e contribuir para a sociedade de diversas maneiras. Temos o papel coletivo de tornar o mundo mais inclusivo e acessível.
O autismo não precisa limitar sonhos. Nelson, diagnosticado aos 3 anos, hoje tem 35 anos e é professor universitário de Física. “Tive dificuldades, mas encontrei minha vocação. Sei que ainda há barreiras, mas vejo progresso na inclusão”, afirma. Histórias como a de Nelson nos motivam a continuar avançando.
O futuro está em nossas mãos para torná-lo mais diverso e compassivo. Cabe a todos nós buscarmos informações confiáveis e atualizadas sobre o autismo, não propagar mitos, oferecer suporte às famílias e incluir aquelas dentro do espectro em nossas relações, escolas e locais de trabalho. Assim, construiremos uma sociedade que de fato abraça e valoriza a neuro diversidade humana.
Na perspectiva psicanalítica, o autismo não é entendido simplesmente como um transtorno ou condição médica. A psicanálise visa investigar os processos psíquicos, emocionais e relacionais que constituem as experiências únicas de sujeitos dentro do espectro autista.
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